Achei muito interessante a opinião que se segue. Tendo em vista as circuntâncias atuais, são poucos os que conseguem "sair do quadro para enxergar a moldura" e ter a consciência dos rumos degradantes da nossa cultura musical (... e por consequência de todo o resto.)
Autor: Gerson Nyland/Empresário - Jornal Gazeta do Sul
Mesmo sendo um mero apreciador, confesso que estou preocupado com os rumos da música, principalmente a brasileira. Na minha juventude, curti muito (e ainda considero a melhor música) bandas tipo Bee Gees, Dire Straits, The Police, Queen, U2, Roupa Nova, 14 Bis e etc… Músicas de qualidade, de letras que fazem sentido. Nessa época também a MPB já mostrava o talento dos brasileiros pelo mundo afora. Paulinho da Viola, Gal Costa, Alcione, Caetano Veloso, etc… Tivemos e temos verdadeiros gênios musicais como Hermeto Pascoal, Sivuca, Tom Jobim, Chico Buarque e assim por diante.
Mas cá entre nós, há uns 15 anos que a coisa realmente desandou. Nunca me esqueço de um domingo à tarde junto ao meu avô Renaldino assistindo ao “Gugu”, já começavam a surgir as aberrações musicais. Quero dizer, a fazer sucesso. Lembram do grupo É o Tchan? “segura o tchan, amarra o tchan…”. O vô disse, com olhos fixos na Carla Perez e seu exuberante traseiro (eu também, é claro): “Ah… se isto é música!” Pior que era… Vendia mais que Milton Nascimento. O sucesso “Na boquinha da Garrafa” então. Por favor! Claro que isso era herança da cantora (?) Gretchen e seu desempenho carnal nos palcos, mas esta só fez sucesso entre os homens, e olha lá…
Aí apareceu um tal de “Bonde do Tigrão”. Cruzes. Era só o que dava nos programas de auditório. Ganharam Disco de Ouro. Inacreditável. Com os hits “Cerol na mão” e “Tchutchuca”, deixaram o Roberto Carlos para trás em vendas. Ainda bem que não durou.
Pra quem pensou que nada podia ser pior, se enganou. Meu avô e meu pai, já falecidos lá pelo final da década 90, apreciadores e intérpretes da boa música, escaparam de ter que escutar um tal de MC Serginho cantando “Lacraia…vai Lacraia” por três meses ininterruptos em diversos canais de TV. Como pode? Sem falar da “Eguinha Pocotó”, essa música de letra altamente inteligente, se tocada em um estábulo, lógico.
Mais recentemente, há uns sete anos, apareceu uma baita figura: Tati Quebra Barraco, com o “megasucesso” Fogão Dako. “Dako é bom… Dako é bom…” Que romântico. A moça enriqueceu de tanto fazer show em bailes funk, que aliás são uma competição de bunda por parte das “Funkeiras”, e de palavrões por parte dos “MCs”. Essas batidas os “manos” acham “muito maneiro”! E se matam brigando nos bailes.
Nesse meio tempo, outros “artistas” não menos talentosos deram o ar da graça, como Tiririca, DJs desbocados e pagodeiros em geral. Sem falar da atual “Piriguete”.
Então pensei um dia: bom, basta manter meu aparelho de TV distante de Faustão, Gugu Liberato e afins, que escapo de ver novas baboseiras.
Mas a última decepção veio assistindo ao Fantástico e reportagens sobre o Carnaval. Um fulano auto-intitulado DJ Creu “compôs” o sucesso “Creu”, uma dança com gestos que incitam o erotismo, a libertinagem e tudo de ruim que pode tomar a mente das crianças e jovens de hoje. A letra diz: “Eu fui cozinhar um ovo, mas tinha um pinto dentro, Já pensou se eu cozinho, com o pinto lá dentro”. Rapaz! E a moda tá pegando! Desisto.
Só peço a Deus força pra manter meus filhos longe desse tipo de barulho que alguns insistem em chamar de música. Repetindo o que diria meu avô: “Ah… se isso é música…”.
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