Jaqueline Negreiros
Parece que ao olhar o mundo atual, a nostalgia vem à tona. É comum ouvir os mais velhos relatarem com saudade os idos tempos. Tempos em que a família era sólida, o sexo era conversa restrita aos adultos e a autoridade paterna era inquestionável. Dias em que a futilidade, imagem e o consumismo desenfreado não eram cultuados. É fato que o interesse humano pela intimidade alheia não é de hoje, mas é imprescindível analisar como o capitalismo globalizado e a mídia têm potencializado os fetiches da massa e deturpado a noção dos valores.
Quanto aos programas de TV há praticamente um consenso de que o seu conteúdo é fútil. Mas parece que futilidade vende e muito bem, obrigada.
Não é preciso ser nenhuma estudiosa da mídia de massa para pintar tal quadro. Se a comunicação é uma ferramenta tão poderosa, seu mecanismo não pode ser negligenciado. Neste caso, tão importante quanto saber o que acontece, é saber o porquê. Torna-se inevitável entender o homem pós-moderno, seu pensamento, seu modo de olhar o mundo.
A sociedade ocidental nos últimos séculos tem mudado radicalmente o seu conceito de mundo. Na Idade Média a religião era o centro de tudo, ela regulava a moral e oferecia parâmetros para o homem de sua época. No decorrer dos séculos vieram o existencialismo e o iluminismo, período em que o foco foi tirado da divindade e colocado no próprio ser humano, em seu conhecimento, em sua razão.
Mas, o homem moderno, frustrado com a ineficácia de suas ideologias radicais e com a ausência de respostas científicas para os seus anseios, adere ao relativismo. Agora, não existe mais o centro de tudo. Cada indivíduo tem o seu. O ser humano vê-se então numa crise existencial. Busca referenciais, modelos, paradigmas. Não os encontra, pois "tudo é relativo".
A mídia de massa surge então, com as respostas existenciais tão almejadas. Se a religião, a razão e o próprio homem não são referenciais, a mídia deve oferecê-los. Nasce, assim, a sociedade do espetáculo,da alienação, na qual o indivíduo comum tem nos artistas do espetáculo os seus referenciais. Este show na vida real tem como palco a mídia; tudo que é ditado por ela como "certo" e os que por ela são apontados como celebridades, assim tornam-se.
Esta crise existencial humana não busca modelos apenas naqueles consagrados na mídia, mas também nos celebrizados por ela. Daí se explica o sucesso dos "barracos" da TV, onde gente comum se torna uma estrela por expor em alguns minutos, de forma vulgar, sua intimidade.
A TV tornou-se o ópio da sociedade. Atua com propriedades "alucinógenas" que bloqueiam a capacidade de raciocínio tendendo a encaminhar os índivíduos viciados à um estado "vegetativo". As constatações são irrefutáveis. Salvo algumas "drogas terapêuticas" - alguns documentários e programas educativos - que possuem o intuito de "injetar" nos indivíduos um pouco de "consciência" mesmo que em "doses homeopáticas".
Assistí-la é "viajar" num sonho produzido por ditadores da moda e de ideologias da elite capitalista. É delirar numa "realidade" virtual, num cenário formado por imagens e conceitos selecionados por outrem. É substituir a vida tangível pela inatingível, é consumir passivamente as imagens e as idéias impostas por elas. É conformar-se com a forma em detrimento ao conteúdo. É preferir viver de ilusão do que cair na real.
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
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