Jaqueline Negreiros
Era bom ser criança no meu tempo. Hoje não sei como é, mas vejo que há muita realidade e pouca imaginação na vida dos pequenos. A minha infância era lúdica, a de hoje é eletrônica, rápida e cheia de preocupações. O mundo endureceu demais, e já não se faz mais infância como antigamente há algum tempo. Eu brincava na rua, pé no chão, correndo de um lado para o outro, me esfolando inteira... Todo dia tinha, pelo menos, um arranhão novo. Eu conhecia todas as crianças do meu bairro e a gente aprontava muito. Corríamos de cachorro, atropelávamos quem quer que passasse na nossa frente com nossas bicicletas, jogávamos queimada, brincávamos de pique, amarelinha (tô com medo de ter que explicar isso), e tantas outras brincadeiras que nos mantinha na rua o dia todo. Hoje a coisa não funciona mais assim. Os brinquedos brincam sozinhos, os jogos são no computador ou no PlayStation, e não é mais necessário que haja outra criança pra brincar junto. A infância de hoje é triste e solitária. Talvez, pelo excesso de informação, não sei, não há mais espaço para flautinhas encantadas, donas baratinhas e rapunzéis. Não há mais príncipe, nem centopéia comprando sapatos, e muito menos cigarras e formigas enfrentando um inverno rigoroso. Temos pais ocupados demais para contar histórias antes de seus filhos dormirem, escolas que preparam para o vestibular desde o maternal .
Lamento muito por isso, lamento pelos meus filhos que, por mais que eu me esforce, não terão, nem de perto, uma infância tão bacana quanto a minha. Eu sei que as coisas mudam, mas é fato que às vezes mudam pra pior!
domingo, 13 de janeiro de 2008
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