domingo, 13 de janeiro de 2008

Ser criança

Jaqueline Negreiros

Era bom ser criança no meu tempo. Hoje não sei como é, mas vejo que há muita realidade e pouca imaginação na vida dos pequenos. A minha infância era lúdica, a de hoje é eletrônica, rápida e cheia de preocupações. O mundo endureceu demais, e já não se faz mais infância como antigamente há algum tempo. Eu brincava na rua, pé no chão, correndo de um lado para o outro, me esfolando inteira... Todo dia tinha, pelo menos, um arranhão novo. Eu conhecia todas as crianças do meu bairro e a gente aprontava muito. Corríamos de cachorro, atropelávamos quem quer que passasse na nossa frente com nossas bicicletas, jogávamos queimada, brincávamos de pique, amarelinha ( com medo de ter que explicar isso), e tantas outras brincadeiras que nos mantinha na rua o dia todo. Hoje a coisa não funciona mais assim. Os brinquedos brincam sozinhos, os jogos são no computador ou no PlayStation, e não é mais necessário que haja outra criança pra brincar junto. A infância de hoje é triste e solitária. Talvez, pelo excesso de informação, não sei, não há mais espaço para flautinhas encantadas, donas baratinhas e rapunzéis. Não há mais príncipe, nem centopéia comprando sapatos, e muito menos cigarras e formigas enfrentando um inverno rigoroso. Temos pais ocupados demais para contar histórias antes de seus filhos dormirem, escolas que preparam para o vestibular desde o maternal .
Lamento muito por isso, lamento pelos meus filhos que, por mais que eu me esforce, não terão, nem de perto, uma infância tão bacana quanto a minha. Eu sei que as coisas mudam, mas é fato que às vezes mudam pra pior!

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