sábado, 19 de janeiro de 2008

O estereótipo do "homem macho"

Jaqueline Negreiros

Há uma ideologia, herdada do patriarcado, do que deva ser um homem. Ele é, nessa visão, o condutor, o provedor, o juiz, o protetor, o defensor, o conquistador.
Para serem bons atores dessa ideologia, os homens têm que passar por um processo de adestramento que leva muitos anos e começa desde cedo. Brincam de coisas agressivas, "marcam territórios", brigam usando mais o físico do que os neurônios, jogam esportes violentos, desprezam as meninas como fracas e jamais se misturam com elas para imaginar coisas sensíveis, simbolizarem ritos domésticos ou simplesmente conversarem. Quando começam a sentir permissão para se aproximar, é com o intuito de "colecioná-las", de mostrar aos iguais seu poder sedutor , de usá-las para algum proveito próprio.
Amigos de verdade, em geral, não têm, porque um amigo é sempre um confidente e homens não trocam confidências. Homens tem companheiros, com quem bebem cervejas e vão ao futebol!
Em geral não gostam de mostrar sentimentos. Isso é identificado com fraqueza. Homens não choram ou, se o fazem, choram escondidos.
O resultado de tudo isso é que se tornam mais fracos. Morrem mais cedo, adoecem mais do coração, enlouquecem mais porque estão envenenados de dores que não podem externalizar e de alegrias que não podem gritar (exceto na hora do jogo).
Essas características soam algo patéticas, em um mundo que não precisa mais delas .Esses senhores fortes foram totalmente desmoralizados pelos desnudamentos da psicanálise ,pelas ciências sociais, pelos estudos antropológicos e, principalmente, pela ascensão das mulheres. Enquanto eles jogavam, bebiam suas cervejas, arrotavam alto, corriam loucamente nas motos e automóveis e morriam nas guerras, confirmando todos os clichês, elas estudavam, se reuniam, ascendiam por dedicação profissional e conquistavam o mundo.
Os homens sentem-se roubados! Já não têm coragem de ser o que eram e não fazem a menor idéia do que são! Isso gera uma enorme carga de frustração e agressividade.
Nunca tiveram muita relevância como pais e rejeitaram tudo o que é doméstico. No mundo fora do lar também acabaram perdendo importância por terem visto como fraqueza as atividades intelectuais, especialmente nas áreas das humanidades. Repentinamente, mergulharam em um mundo altamente complexo, que exige novamente o conhecimento do generalista ao lado da especialidade. Desprezaram as emoções e acabaram dando de cara com um mercado de trabalho que seleciona a partir de testes de Q.E. (Quociente Emocional). Que lhes sobrou? Que restou para eles, frutos de uma ideologia anacrônica, de uma horrorosa educação dessensibilizante, da perda progressiva e percebida de todos os tronos? Sobrou-lhes a raiva, a violência!
É um dos casos típicos em que a falta de auto-estima redunda em falta de estima pelos demais.
É preciso ressignificar o masculino, ressocializar o homem, permitir-lhe os sentimentos, dar-lhe licença para o exercício da fragilidade, ajudá-lo a aprender a rir e chorar, ao lado de reforçar as conquistas positivas do feminino, evitando as contaminações do estereótipo recusado, é o mais competente exercício educativo que se pode fazer para reduzir a violência disseminada e melhorar o mundo em que vivemos.

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